terça-feira, 30 de outubro de 2012

Personalidades Midiáticas: Neymar


O Brasil sempre teve a necessidade de ter heróis para a nação. Isso vem desde o começo da nossa história, quando uma versão incrível e heroica da nossa Independência foi contada e recontada nas escolas, em que D. Pedro I empunhava corajosamente sua espada nas margens do rio Ipiranga gritando “Independência ou Morte!”. A realidade, como já se sabe hoje, está bem longe de ser essa e ainda mais longe de ser heroica como deveria.

De uns tempos para cá, as pessoas que os brasileiros tomam para heróis do país estão principalmente no meio esportivo. Pelé, Ayrton Senna e nos últimos anos, Ronaldo Fenômeno, César Cielo, Anderson ”Spider” Silva e Neymar. O heroísmo dessas pessoas, claro, é muito alimentado pela mídia e imediatamente abraçado pelo público. Os rostos dessas pessoas passam a aparecer em diversas propagandas, que quase sempre reforçam o talento desses atletas no esporte que praticam e muitas vezes até brincam com as capacidades deles, levando-as além, como se eles fossem de fato capazes de feitos extraordinários.

Mas o que torna os heróis e ídolos do esporte tão diferentes de ídolos da música, do Cinema ou da TV? O fato de elas representarem o Brasil nos esportes e destes serem de natureza competitiva talvez crie esse mito em torno dessas pessoas. Afinal, um artista como Elvis Presley pode ser um ídolo, entretanto, a idolatria que leva as pessoas a considerarem atletas como heróis nacionais talvez resida no fato de que, para que eles ganhem e se destaquem, um adversário precisa perder.

E é aí que a mídia cria o herói. Pois num jogo do Brasil, quando o país vencia, Ronaldo era o primeiro a ganhar o foco da câmera para comemorar a vitória, assim como Pelé. E Neymar hoje em dia, dispensa até comentários. Um gol dele é comemorado como uma verdadeira vitória na partida. Quando eles ganham, a mídia tenta mostrar que o Brasil inteiro está ganhando, mostra que, graças a essas pessoas, nós somos melhores que outros países. Isso ajuda a criar o herói, o ídolo, o mito.
E essa relação mostra diversos pontos curiosos a serem trabalhados, afinal de contas, como essas personalidades influenciam as pessoas que estão vendo-os? Ronaldo na Copa do Mundo de 2002 utilizou um corte de cabelo carinhosamente apelidade de “Cascão” em alusão ao personagem criado por Maurício de Sousa. E esse corte na época além de alvo de gozações também foi amplamente utilizado por crianças e jovens - e outros não tão jovens assim também - assim, podemos ver como essa relação de público, mídia e “personagem” é desenvolvida, influenciando nãos mais diversos aspectos.
O exemplo mais atual que temos disso dentro do futebol é o jogador Neymar. Dono de uma grande habilidade dentro dos campos e de um certo carisma, a mídia tratou logo de trabalhar com a imagem dele. Então, logo que o jogador começou brilhar, seu rosto começou a surgir em comerciais de televisão sendo garoto-propaganda de grandes marcas como Samsung e Claro. Assim, foi onde começamos a ver que a influência dele passou a aumentar de uma forma um tanto quando assustadora, já que por onde andávamos podiam se ver muitos garotos usando moicanos e também meninas histericamente apaixonadas por ele.
Vale lembrar que isso é notado principalmente nos jogadores, sendo que os mais jovens aderiram ao estilo de Neymar; usando, por exemplo: meião acima dos joelhos, munhequeiras em ambos os braços, o moicano, a febre de se fazer “dancinhas” para se comemorar um gol, fones de ouvido com tamanhos exagerados, a frase: “Alegria e Ousadia”, o jeito meio debochado de jogar futebol, chuteiras coloridas, entre várias outras coisas.

E é curioso ver como essa relação vai se elaborando com o tempo. Hoje em dia, o que Neymar faz, ouve e pensa se torna notícia. E esse seu “carisma” rende participações em clipes, shows – onde inclusive ele chegou a cantar em um, para a infelicidade de alguns – séries de TV e propagandas de diversas empresas. Tudo acaba alavancando ainda mais o personagem, fazendo-o ficar cada vez mais a vista da população, tudo para fazer dele alguém com quem o povo se identifique nas mais diferentes situações.

Esse personagem tão bem montado algumas vezes tem suas crises, onde o personagem acaba dominando a pessoa e o ego acaba se sobressaindo. Neymar não foi diferente disso. Em setembro de 2010, durante uma partida conta o Atlético-GO, o jogador teve o caso mais conhecido de ego inflado que a mídia capturou, Neymar e Dorival que era técnico do Santos tiveram uma discussão á beira do gramado, já que na visão do treinador, Neymar não o estava obedecendo. O jogador então retrucou com xingamentos, ofendendo não só ao técnico, mas também Edu Dracena capitão do time que foi tirar satisfação com Neymar sobre a suas atitudes. Toda essa situação gerou um grande desconforto dentro do clube e posteriormente Dorival foi demitido.

Isso tudo gerou um certo receio, afinal de contas, o que estava sendo criado? Um exemplo para os jovens, alguém que poderia ser usado como “herói” do Brasil na Copa do Mundo ou estava sendo criado um “monstro” que foi seria dominado pelo próprio ego? René Simões, técnico da equipe do Atlético-GO naquela oportunidade, disse o seguinte a respeito daquela situação: "Está na hora de alguém educar esse rapaz, estamos criando um monstro". A mídia então, pouco a pouco foi colocando panos quentes naquela situação, precisava abafar o caso de alguma forma. Assim foram surgindo declarações de Neymar dizendo que tudo aquilo foi um acaso, que se sentia culpado pela demissão do técnico, pediu desculpas diversas vezes e posteriormente, o caso acabou sendo esquecido.

E essa montagem de personagem mesmo com algumas falhas vem ganhando cada vez mais corpo. O garoto ainda de 20 anos já é conhecido como “a cara do Brasil” na Copa do Mundo que ocorrerá em território nacional no ano de 2014. E com isso, o jogador acaba ganhando uma carga de pressão muito grande, afinal de contas, caso algo dê errado durante a Copa, a culpa não será de uma seleção inteira, de dirigentes que fazem bobagens, de técnico que faz péssimas escolhas - mentira, o técnico também será extremamente cornetado, assim como já é hoje em dia - e pode acabar cair pesadamente nas costas do “garoto do moicano”.

A forma como ele reagiria a essa queda, ainda não podemos saber. Tivemos uma pequena amostra de como isso seria, já que na última olimpíada, a seleção brasileira chegou a final como franca favorita, tinha Neymar em destaque, porém, acabou perdendo para o México e ficando com a medalha de prata com um gostinho de derrota muito mais amargo do que deveria. Porém, era só uma olimpíada, não há como prever se haverá maturidade dele para entender e engolir as as críticas pós um fracasso em Copa do Mundo e seguir em frente como fez Ronaldo em 2006 e em tantas outras ocasiões ou se ele simplesmente não aceitará ser tão cobrado por isso e acabe sumindo da mídia por algum tempo, como fez o técnico Dunga em 2010.

O que também resta saber a nós é como fica a influência desse personagem após as duras critícas que pode - e deverá - receber em caso de fracasso na Copa, sumirão os moicanos das ruas? As dancinhas pós gol serão trocadas por comemorações mais “clássicas”? Não sabemos, teremos de esperar - ansiosamente ou não - para ver o que acontece com a seleção canarinho em 2014, época em que os moicanos estarão fervilhando pelas ruas no começo da Copa, podendo aumentar ou entrar em extinção após o final da competição e como já diz o povo: Quem viver, verá.

Só para concluir toda a ideia, Ayrton Senna merece ser comentado de uma forma especial também. Afinal de contas, o povo se identificou demais com o piloto, pela sua garra, gana de vitória e principalmente pelo seu patriotismo, já que após as vitórias ele sempre tirava uma bandeira do Brasil dentro do cockpit e a balançava. E graças ao período conturbado que o Brasil vivia naquela época, era necessário ter um representante brasileiro de peso, alguém para que o povo se identificasse. E assim foi com Senna, tanto em vida, quanto em morte, onde houve uma grande comoção pública, onde milhões de pessoas que sequer chegaram perto de Ayrton uma só vez sofreram, já que o tinham como semelhante, afinal de contas, era um dos nossos. Era brasileiro. E era com orgulho.

Nickolas Ranullo, Marcelo Silva, Victor Meirelles e Guilherme Luis

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